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Cubatão recebe representantes de quatro instituições para conheceram o ‘Cemitério Israelita’

  • 6 min de leitura

O  Município de Cubatão recebeu nesta quinta (27) representantes de quatro instituições culturais da capital paulista, que vieram conhecer o Cemitério Israelita da Cidade. A visita envolveu 40 pessoas, colaboradores da Associação Chevra Kadisha, Casa do Povo, Comunidade Shalom e o Instituto Brasil Israel (IBI). Inicialmente, foram recepcionadas na sala de reunião do ‘Centro de Aprendizagem Metódica e Prática Mario dos Santos’ (CAMP), que fica bem em frente  ao Cemitério Municipal. Foram recebidas por Fabrício Lopes, secretário de Governo e Turismo; Omar Bermedo, secretário de Cultura; pelo historiador Welington Borges; e por representantes do CAMP. “Cubatão pulsa quando se fala em questões culturais e históricas. É um prazer receber vocês aqui”, falou Omar Bermedo.

O secretário de Governo destacou a importância de Cubatão para diversos fatos históricos do País: “Só pra vocês terem ideia, há poucos metros daqui ficava o Porto Geral de Santos. Mais um pouquinho adiante, há o ‘Cruzeiro Quinhentista’, e depois o ‘Caminhos do Mar’, popularmente conhecida como Estrada Velha de Santos, com a Calçada do Lorena, o primeiro caminho pavimentado do país. Ou seja, há todo um cenário turístico, mas há também o contexto econômico por conta do polo industrial. E desejamos que todos saibam e levem adiante essas informações”, afirmou Fabrício.

Conhecendo o Cemitério Israelita – Partindo para a visita, o público foi abastecido com várias explicações sobre a tradição judaica e um pouco da história desse cemitério em Cubatão. Segundo o historiador Wellington, muito mais que o visual do local, há um forte contexto envolvendo as mulheres pois, entre os renegados pela comunidade judaica da época, foram enterradas no lugar 54 corpos das chamadas “polacas”, como passaram a ser chamadas, além de 15 homens. Todos os sepultamentos ocorreram entre 1924 e 1966. É justamente aí que envolve o contexto das mulheres.

Para isso, elas formaram uma associação de mulheres judias e, com o tempo, conseguiram comprar um lugar especialmente reservado para um sepultamento digno. No início, o local adquirido era o terreno onde hoje está a Refinaria de Cubatão. Depois, o cemitério acabou sendo transferido para um terreno à parte ao lado do atual Cemitério Municipal de Cubatão. Quanto às mulheres, Borges explicou que elas eram provenientes do leste europeu, que naquele período passava por momentos turbulentos, economicamente quanto diplomaticamente, especialmente no pós-guerra. Da Polônia, muitas mulheres vieram para o Brasil com a falsa promessa de casamento, trazidas por traficantes de mulheres nos fins do século XIX e início do XX.

“Chegando aqui, elas eram obrigadas a se prostituir e não sabiam o que fazer ao se deparar com uma realidade diferente do que elas imaginavam, uma vez que vieram tendo em vista à uma vida mais promissora. Todas elas eram chamadas genericamente de ‘polacas’, apesar virem de vários países judeus. Mas isso não impediu que lutassem pela manutenção dos seus princípios religiosos conforme a tradição judaica, inclusive no pós-vida. Essa é uma questão que mexe muito com os judeus. E a nossa cidade fez isso ao colocar esse importante espaço para o Tombamento Histórico e Cultural”, ressaltou Borges. Desta forma, foi tombado em 2010 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Cubatão (Condepac) e restaurado em 2019 pela Associação Chevra Kadisha em convênio com a Prefeitura de Cubatão. Desde que foi restaurado, o cemitério israelita recebe visitas de estudiosos e curiosos de vários estados brasileiros e de outros países.

Levantamento dos óbitos – Uma das vozes que ouvia e que também ajudou bastante esclarecer aos demais  visitantes sobre os detalhes culturais do povo judeu e do contexto que envolve o cemitério, foi a professora Paula Janovitch, antropóloga e historiadora da Casa do Povo, em São Paulo.  Ela trabalha há bastante tempo nesse assunto. Ela revelou que está fazendo um levantamento para um registro mais aprofundado sobre as datas e das pessoas que foram sepultadas no cemitério Israelita de Cubatão. “Eu já havia vindo aqui algumas vezes, mas em relação à última, faz tempo. Devo voltar mais vezes a partir de agora para concluir esse trabalho de levantamento dos óbitos”, disse.

Em vez de flores, pedras – Não é exagero dizer que a tradição judaica é repleta de simbolismos e, muitos deles, com significados profundos. E uma dessas práticas distintas versa sobre a colocação de pedras nos túmulos em vez de flores. O que pode parecer incomum para outras culturas, eles consideram notável e têm muito orgulho. Essa tradição tem raízes antigas, que são ligadas a valores culturais e religiosos. São vários os significados, e um dos simbolismos é a durabilidade, pois enquanto as flores murcham e se deterioram com o tempo, as pedras são duradouras e resistentes.

“Isso representa a ideia de que a memória do falecido não deve desaparecer e sim perdurar ao longo do tempo. É uma maneira de afirmar que a influência e o impacto da pessoa na vida daqueles que a conheceram devem ser lembrados e apreciados de forma contínua. Cada pedra ali significa que alguém visitou aquele túmulo, mantendo assim a lembrança daquela pessoa”, explica o professor e historiador Welington Borges.  Além disso, ele disse que o judaísmo valoriza a modéstia e a humildade como virtudes essenciais. Conforme diz a tradição, o ato de colocar uma pedra em um túmulo é simples e despretensioso, refletindo esses valores. Em contraste, a exibição de flores pode ser considerada mais extravagante e efêmera. ‘’Neste sentido, simplicidade e modéstia são qualidades que os judeus valorizam e sempre procuram manter em todas as áreas de suas vidas, inclusive na questão dos rituais funerários”, completou.

Falando em pedras, essa foi uma das peculiaridades que chamou a atenção de Leonardo Monteiro, 28 anos, que veio de São Paulo como um dos integrantes (colaborador) da Casa do Povo, uma das instituições presentes. “Eu vim uma vez a Cubatão para assistir à peça de teatro Vila Parisi, que inclusive fiquei sabendo depois que foi contemplada com o prêmio Shell, o que achei maravilhoso. Mas no cemitério é a primeira vez, e por ser israelita, ganhou um interesse maior justamente pelo lado cultural. É muito diferente do que estamos acostumados e vai além do que imaginamos.  É realmente interessante, principalmente no meu caso, que trabalho em casa de cultura.  Viemos aqui para agregar conhecimentos e digo que valeu a pena. Adorei essa questão da pedra e de outros simbolismos”, expressou o paulistano.

 

Texto e fotos – Secom Cubatão

 

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