Nas mãos, um utensílio brasileiro originário de uma planta – a cabaça, a mesma que se faz a cuia – como uma maneira de extrair de dentro dela elementos ou instrumentos que possam contar a história da África e sua ancestralidade, a mestra e palestrante Giselda Perê chamava atenção da grande plateia de profissionais da rede municipal de Ensino de Cubatão. A palestra de Giselda foi realizada em dois períodos nesta segunda-feira (3) no salão principal da Associação Comercial e Industrial de Cubatão (Acic). Com o tema “Educação antirracista e histórias”, reuniu educadores do Ensino Infantil e Creches.
A ação faz parte da série de palestras e oficinas promovidas esta semana, de 3 a 5 de fevereiro, pela Seduc como forma de acolhimento aos seus profissionais. Segundo a Pasta, o objetivo é oferecer qualificação por meio de suporte emocional e promoção da educação antirracista. Os temas estão sendo abordados pela ONG Gaia Mais, pelo Museu de Arte Moderna (MAM) e Pinacoteca, esses últimos patrocinados pela Unipar.
“Aqui em Cubatão, em 2025, o ano letivo será ainda mais permeado por essa temática, sendo um dos motes dos nossos trabalhos pedagógicos na rede. Inclusive estamos atuando em consonância às Leis Federais 10.639 e 11.645”, informou a secretária de Educação Danielle Souza. Segundo ela, as leis alteraram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), incluindo a obrigatoriedade das temáticas ‘História e Cultura Afro-brasileira e Africana’ e ‘História e Cultura Afro-brasileira e Indígena’ na grade escolar. Nesse sentido, a Seduc trouxe uma especialista no assunto para abordar os temas de forma específica junto aos educadores.
Giselda utilizou-se de histórias para despertar nos profissionais o tema do antirracismo e falou sobre a importância de utilizar histórias reais para ilustrar o assunto e combater o racismo desde a mais tenra idade. Pelo lado acadêmico, a mestra entende que é necessário reforçar a cultura afro na escola, parte essencial para fortalecer a identidade brasileira. De acordo com ela, isso deve ser marcado por um processo contínuo de luta e valorização, mas que se não for ensinado e difundido da forma como realmente é, deixa de ser respeitada ao longo dos anos. E isso atravessa primordialmente a educação-básica, passando obviamente pelos educadores. “O que se deve ensinar é o respeito e tolerância com a nossa cultura e com o diferente. Isso é um direto garantido em lei”, disse a palestrante.
“Questiono a cada um, como conseguiremos combater o racismo se ainda contamos a mesma história, aprendida lá na infância, nas escolas? Para melhorar esse enfrentamento é necessário ampliar os conhecimentos sobre a questão do negro, da África e do povo africano. Não podemos esconder ou desconsiderar as nossas origens enquanto descendentes de negros que somos. A maior parte da população brasileira reproduz o racismo, inclusive no universo escolar. O que está nas paredes das escolas é uma narrativa e toda narrativa vem do hábito. Precisamos quebrar isso e avançar, pois a fala antirracista precisa estar no ambiente escolar o tempo todo”, continuou.
‘A arte de narrar histórias pretas’ – Sobre isso Giselda diz que “nós, enquanto educadores, devemos sair da caixinha da ‘história única’ sobre a África e sobre as pessoas pretas. Temos que ampliar esse olhar nas salas de aulas. Os professores e demais educadores têm que explicar algo diferente daquilo que o senso comum sempre dizia e ainda diz. Por isso Repito: temos que sair do eixo de história única”, completou. Para Giselda, ministrar sobre o tema para os profissionais cubatenses, foi como completar uma missão de contar para os pares o que descobriu acerca do antirracismo, dentro dos 15 anos aprendendo e contando histórias reais sobre o povo negro.
A programação de acolhimento dos profissionais da Seduc prosseguiu nesta terça (4) com atividades também em dois períodos para gestores e profissionais que atuam no ensino fundamental. O encerramento será nesta quarta-feira (5), com palestras na Acic e na Escola Técnica de Música e Dança de Cubatão, sempre em dois períodos.
Texto e fotos: Secom Cubatão