Pense em uma espécie de árvore que ficou marcada pela sua relevância na história e na identidade de uma nação. De tão importante que, à época em que os portugueses chegaram a esse país no século XVI, ela veio a dar nome a ele. Sua exploração é considerada a primeira atividade econômica e foi por causa dela e do seu alto valor comercial que os portugueses permaneceram neste então território para colonização. De tão explorada, hoje essa famosa espécie é considerada ameaçada de extinção. Certamente, a essas alturas, o leitor já entendeu que, obviamente, trata-se do pau-brasil. Isso mesmo. E, para melhorar essa história, ela foi encontrada em Cubatão, em nada menos que 8 escolas da cidade, sendo 5 da rede municipal e 3 da estadual.
Vale ressaltar que a descoberta ocorreu durante um levantamento para o Plano de Arborização Urbana, realizado pela Prefeitura, via secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam), por meio da empresa RTA Resilimpa, responsável pela execução do projeto. As biólogas Pâmela de Souza Silva e Luiza Rossato Pereira participam dos trabalhos. Elas cotam que o Plano tem um prazo de ano para ficar pronto e começou em setembro do ano passado e já está na fase final de diagnóstico. Mas ainda na primeira fase dessa análise, em uma apresentação feita para cerca de 150 alunos na Etec, na Vila Couto, durante abertura de uma série de eventos alusivos à ´Semana do Meio Ambiente’ pela Prefeitura, já surgiram alguns dados importantes: foram catalogadas 1.583 árvores em 44 km de área pesquisada na cidade, em diversas áreas e bairros. Do total, 752 estão situadas em calçadas estreitas e 173 em calçadas largas; outras 264 unidades são exóticas (não nativas) e 27% são espécies não recomendadas para o meio urbano”. Dentro de todo esse contexto, os três bairros mais arborizados são Vila Nova, Vila Couto e Centro.
Mas um outro detalhe interessante e que chamou a atenção consta que, em suas andanças pela cidade para o devido levantamento de campo, foram encontradas três espécies nativas consideradas ameaçadas de extinção. Entre elas, um nome saltou aos olhos de todos pela sua importância histórica (que será falada mais abaixo): o pau-brasil. A espécie foi identificada em 8 unidades escolares. Cinco delas pertencentes à rede municipal de ensino e três estaduais, que respectivamente são: UME Padre José de Anchieta, UME Jaime João Olcese, UME Lucy Montoro, UME Bernardo José de Lorena e UME Minas Gerais, além de Afonso Schmidt , Lincoln Feliciano e Etec. As outras duas árvores foram a Canela (um dos tipos) e a Araucária. Esta não é nativa desta região, é mais comum no sul do país, e foi encontrada na Av. Nove de Abril, no Centro.
Pâmela e Luiza afirmam que todos as árvores já estão em idade adulta e, em relação às verificadas nas escolas, elas acham que “Provavelmente, alguém da direção, algum servidor ou alunos da escola possa ter plantado, mas isso não foi levantado. “Mas de fato é interessante termos localizado uma espécie tão significativa e ainda em Escolas, o que foi mais curioso, mas ao mesmo tempo talvez por isso elas foram preservadas. Foi muito legal encontrá-las em Cubatão”, comentou. “Mas isso quer dizer que podemos plantá-las em qualquer lugar, pois elas crescem bastante, têm troncos grossos, raízes longas e profundas, dependendo onde for plantada pode causar estragos no futuro. Por isso, vale sempre lembrar de que o plantio de árvores não adequadas ao meio urbano pode, sim, se expandir de maneira negativa no município.
Sobre o trabalho, elas afirmam que foram 4 meses de levantamento de campo, realizado em uma amostragem apurada em todos os bairros do município, em pelo menos 30% da área de cada bairro. O Plano ainda está em fase final, cujo relatório vai apontar os locais apropriados e as espécies que melhores se adaptam a cada espaço em razão de suas características. Esse levantamento tendo em vista consignar o inventário arbóreo de toda a cidade. Segundo as profissionais, haverá ainda uma apresentação interna para a Semam agora em julho, que precede a audiência pública, programada para agosto, com data e local ainda a definir. Nesta, são feitos eventuais apontamentos que podem ser corrigidos e/ou melhorados até a entrega no final no mês de setembro.
De acordo com titular da Semam Halan Clemente, a ação faz parte das medidas conjuntas das ‘Pastas de Governo’ no que tange à promoção do controle, por conta de fortalecer os pilares da sustentabilidade ambiental do município, visto que o tema versa sobre a qualidade de arborização do Município, em especial a Urbana. “A medida contempla também em recepcionar os parâmetros técnicos da CPFL, por meio do ‘Programa Arborização Mais Segura’ firmado entre a Prefeitura e a Concessionária de Energia Elétrica que, por sua vez, também visa promover a convivência harmônica entre a vegetação e os espaços urbanos, aliada à segurança dos moradores’, explica.
Clemente destaca a importância da execução do plano para o Meio Ambiente. Neste sentido, o secretário relata também que, como forma de divulgar as ações da Prefeitura por conta do Plano, bem como as do Programa, serão instaladas faixas em todos os bairros da cidade com objetivo de comunicar ao público em geral o fato de que o bairro está contemplado nos estudos do “Plano de Arborização Urbana” de Cubatão.
Sobre o Pau-Brasil – De crescimento lento e irregular e galhos com espinhos, a espécie também pode ser encontrada em alguns estados como Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Norte, cujo bioma de origem é a Mata Atlântica, podendo chegar até 30 metros de altura e ter uma vida longa, de até 300 anos (em raras exceções, até 500 anos). Também é conhecido por outros nomes populares como pau-de-pernambuco, pau-rosado, pau-rosa-do-ibirapitanga, ibirapita e muirapiranga, o pau-brasil foi símbolo artístico de um dos movimentos modernistas durante a Semana de Arte Moderna de 1922. Em 1961, o presidente Jânio Quadros aprovou um projeto a declarando como árvore símbolo nacional. Posteriormente, por meio da Lei 6.607/1978, a declaração foi ratificada e ficou estabelecido o Dia do Pau-Brasil, que passou a ser celebrado no dia 3 de maio.
Texto e fotos: Ismael Pereira
