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Curta-metragem cubatense conquista dois prêmios no ‘10º Santos Film Fest’

Trabalho cinematográfico de Douglas Gadelha reflete a trajetória de um operário nordestino que trabalhou na Refinaria de Cubatão
  • 6 min de leitura

O curta-metragem ‘Chico Voltou Só’ (2023) foi um dos grandes vencedores do ’10° Santos Film Fest’, na noite desta quarta (26), levando para casa os prêmios de 1º lugar em ‘Melhor Roteiro’ e 2º lugar em ‘Melhor Filme Regional’ . A obra foi dirigida pelo cineasta cubatense Douglas Gadelha Sá e narra a comovente trajetória do avô Francisco de Sá, o Chico, um operário nordestino, durante a ditadura militar brasileira nos anos 1970, ambientada na cidade de Cubatão.

‘Chico Voltou Só’ destaca-se não apenas por ser a única produção cubatense na competição, mas também pela maneira sensível com que aborda temas como censura, fluxo migratório e mortes, que marcaram uma das épocas mais sombrias da história do Brasil. “Utilizamos imagens de arquivo inéditas para construir um retrato íntimo do cotidiano de Chico e de muitos outros brasileiros que, como ele, enfrentaram grandes desafios e sofrimentos em busca de melhores condições de vida na região”, relata o cineasta Douglas.

A construção do projeto, que demandou cerca de dois anos de preparação, foi possibilitada em decorrência de uma bolsa proporcionada pelo Comitê Consultivo da Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo (SPCine), em conjunto com a Escola Digital de Economia Criativa (Coliga) e a Fundação Roberto Marinho, graças à participação de Douglas no curso ‘Meu Olhar’. “No cinema, tudo é caro. Ser selecionado pelo edital dessas organizações públicas permitiu um investimento de R$ 3 mil para a produção. Com isso, acredito, ainda, ter economizado o mesmo valor recebido”, relembra.

O filme foi montado pelo jornalista Leandro Olímpio, tem direção de fotografia assinada pelo fotógrafo Rodrigo Samia, junto com a mixagem e desenho de som feito por Breno Demarchi, pesquisador e antropólogo – uma equipe de quatro profissionais da região. Já as estatuetas obtidas, no entanto, não foram as únicas premiações: uma bolsa de estudos para o curso de Cinema na Universidade Católica de Santos (Unisantos), parceira do Santos Film Fest, também foi conquistada pela equipe.

Cinema é arte, Filosofia também – Embora sempre tenha sido apaixonado por Cinema, Douglas Gadelha é professor de Filosofia. Foi interesse por analisar criticamente narrativas visuais e históricas que o levou a mergulhar de cabeça na produção de ‘Chico Voltou Só’. “O cinema é uma ferramenta poderosa para a reflexão e a memória”, assume. O documentário é a estreia do artista no audiovisual como diretor e pesquisador, e pode ser conferido em https://www.youtube.com/@CanalfuturaOrgBr ou diretamente em https://www.youtube.com/watch?v=eyckuFLYndw&list=PLNM2T4DNzmq4xHbfm77lbuKqW-DVQ_jpv&index=31.

“Na Baixada Santista, quem é que não possui um parentesco nordestino?”, indaga o cineasta. É nessa direção que o documentário explora a importância de personagens comuns. Chico foi um simples montador de andaime e um homem analfabeto, embora petroleiro, muito diferente da filmografia nacional sobre o período militar que focava somente no conflito político entre militantes e militares, quando a relação pode ser muito mais complexa e, muitas vezes, suspeita e controversa com pessoas comuns.

Narrada pelo próprio Douglas, neto do personagem principal, a obra é inteiramente construída com material inédito, entre acervos da Biblioteca de Cubatão, Fundação de Arquivo e Memória de Santos, da Cinemateca Brasileira, do fundo de memória do Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (SindiPetro-LP) e acervos familiares. “A história de Chico é aquela que se repete a quase todos os operários cubatenses que aqui estiveram, moraram e trabalharam durante a ditadura militar”, pondera o autor.

Em 2023, ‘Chico Voltou Só’ também concorreu na votação popular para os melhores quatro curtas-metragens do projeto “Meu Olhar”, disputando na categoria documentário e representando Cubatão na cena do audiovisual do Estado de São Paulo – como resultado, o prêmio de mentoria com a Sobretudo Filmes, produtora de reconhecimento nacional.

 O autor – Douglas Gadelha Sá, de 26 anos, estudou em escola pública. Deixou Cubatão em 2016 para formar-se em Filosofia na Universidade federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul. Atualmente, de volta à cidade de origem, realiza diversas pesquisas em arquivos no município, procurando entender a história não contada ali presente em diversas imagens e vídeos ainda pouco explorados. É professor de Filosofia na rede estadual em Praia Grande e trabalha com visualidades a partir de imagens de arquivo, fotografias e vídeos. Também escreve poesia e crônica, tendo alguns ensaios e críticas de arte já publicados. Ele prepara ainda uma exposição de fotografia sobre Cubatão. Integra, como representante do audiovisual, o Conselho Municipal de Política Cultural de Cubatão (CMPC).

Cubatão integra programação do Festival – Nesta sexta-feira (28), o Santos Film Fest chega a Cubatão e promove uma atividade inclusiva e cultural: a ‘Sessão de Cinema Azul’, no Cine Roxy, no Parque Anilinas (av. Nove de Abril, s/nº), em parceria com o Projeto Inclusão para Todos, com objetivo de ressaltar acessibilidade e inclusão. O projeto é voltado para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A sala do Roxy deve ser adaptada, com som reduzido, luzes laterais acesas, temperatura controlada e espaços entre as poltronas. Já as crianças e suas famílias assistem à animação ‘Orion e o Escuro’ (2024), e recebem combos gratuitos de pipoca e refrigerante.

O Festival Internacional de Filmes de Santos ocorre desde 2016 e visa promover o cinema, especialmente o nacional, o resgate histórico, a formação de público, a democratização de acesso à cultura e o intercâmbio entre cidades e países. Não há caráter competitivo, mas há voto da audiência. Anualmente, são também homenageados grandes profissionais do audiovisual brasileiro. A programação é sempre gratuita e reúne, além das exibições de curtas, médias e longas-metragens, debates, oficinas formativas, exposições, apresentações musicais e a virada cinematográfica com café da manhã.

Por: Renan da Paz – estagiário de Jornalismo e Morgana Monteiro/Diretora de Imprensa
Fotos: Nice Gonçalvez/Acervo Santos Film Fest e Reprodução documentário ‘Chico Voltou só’

 

 

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