Duas produções audiovisuais com a participação de profissionais cubatenses foram premiadas na 22º edição do Curta Santos Festival, que neste ano teve como tema “O Cinema de Transformação”. O resultado saiu neste domingo (10). O festival é um dos principais eventos de valorização do cinema regional e esse reconhecimento ressalta o potencial criativo de Cubatão.
Entre os destaques está o curta-metragem “Chico Voltou Só”, do cineasta cubatense Douglas Gadelha Sá, com a montagem essencial do Leandro Olímpio, jornalista e cineasta com longa experiência no cinema documental. O curta conquistou o troféu Maurice Lègeard de Melhor Montagem. “Chico Voltou Só” revisita a trajetória de Francisco de Sá, o Chico, operário nordestino que viveu em Cubatão durante a ditadura militar. A produção destaca-se por ser uma das poucas a representar Cubatão em festivais de cinema na região, trazendo à tona a história local sob a perspectiva de quem vive e conhece a cidade.
Para Douglas, o protagonismo de Cubatão e de seus artistas em festivais é fundamental. “A presença de obras cubatenses em festivais e mostras de cinema é muito rara, sobretudo na nossa própria região. Muitas vezes, nossos artistas conseguem furar a bolha e vencer prêmios Brasil afora, mas, no cinema, a coisa é um pouco diferente, especialmente em Santos. Eu sempre afirmo a importância de Cubatão estar presente nos festivais de cinema de Santos, pois é uma forma de a cidade contar sua própria história, com olhares de dentro e não apenas externos. Cubatão é rica em temas, assuntos, e o cubatense precisa contar sobre eles”, reflete o diretor.
Douglas destaca a colaboração com Leandro Olímpio: “A montagem do Leandro foi uma peça fundamental no filme. Durante a pesquisa, reuni muito material, cinco vezes mais do que vemos na versão final. E quando o Leandro me entregou o primeiro corte, pensei: era exatamente assim que eu imaginava. A sensibilidade dele em captar o essencial fez toda a diferença. Às vezes, sinto que o filme é parte dele também, porque a montagem dele é o que dá sentido a tudo.”
O Curta também conquistou o 1º lugar em ‘Melhor Roteiro’ e 2º lugar em ‘Melhor Filme Regional’ na 10° edição do Santos Film Fest, neste ano e está disponível no Youtube.
Mais um prêmio no Curta Santos – Outro premiado no Festival foi o ator cubatense Lucas Pereira, que recebeu o troféu de Melhor Ator por seu papel como Pedro, no curta “Neurótico e Consistente” , um jovem de 18 anos morador de uma das favelas da Baixada Santista. No curta, Pedro vende balas pela orla da praia e, em um encontro marcante com uma figura emblemática, relembra acontecimentos do passado que envolvem seu pai e destacam a importância do funk para a autoestima e liberdade periférica. Com direção de Luiz Marq’s e Andrey Haag, o filme também reforça a conexão entre identidade e cultura nas comunidades caiçaras.
Para Lucas, o filme foi uma experiência única: “Participar do filme foi uma grande honra e um aprendizado enorme. Tive a chance de trocar experiências com outros artistas que, assim como eu, também vieram da favela, também produzem seus trabalhos nesses territórios e transformam a própria realidade em arte. E é a realidade da maioria dos moradores da Baixada e do país. A gente falou sobre o que vive e o que vê”, compartilhou. O ator também destaca a importância do trabalho do Coletivo Olhar Marginal, que resgata a memória de MCs da Baixada que foram assassinados. “É um resgate fundamental, porque a gente ainda vê que corpos periféricos, que têm o direito à vida digna, ainda negados”.
Ele também falou sobre a diferença entre a ficção e a vida real: “Na ficção, até conseguimos mudar o final e fazer o protagonista sobreviver…, mas, na vida real, vemos crianças sendo mortas pelo sistema e nem velório têm direito. É cruel”. E se surpreendeu com o reconhecimento: “Eu nunca pensei em ganhar prêmios. Só de estar sendo avaliado para isso já me deu uma ansiedade. Chegamos lá achando que não levaríamos nada… foi uma grande surpresa ver o filme ganhando prêmio atrás de prêmio. É uma forma de mostrar que estamos aqui, construindo novos olhares sobre o que é a periferia, quem são esses corpos periféricos e o que o cinema também pode ser”.
Lucas Pereira celebrou o prêmio de Melhor Ator como uma conquista não só para ele, mas para todos os artistas de Cubatão e suas quebradas. Ele destacou a importância de valorizar a produção cultural local, que, mesmo sem apoio, persiste em contar as próprias histórias. “Os artistas continuam no sufoco, conciliando arte e uma vida digna. É por isso que esse prêmio representa muito pra mim e pros meus camaradas, que insistem em produzir na periferia com todo respeito e amor pelo território”, comentou Lucas.
O ator dedicou o prêmio a cada favela e comunidade de Cubatão: “Salve pra Vila Esperança, onde cresci, e pra todas as quebradas – Vila dos Pescadores, Água Fria, Fabril, Cotas… A gente segue com orgulho de ser favelado e produzindo pra nossa galera. Muito amor e prosperidade para todos nós!”
O Curta Santos não apenas celebra a produção audiovisual, mas também fomenta o diálogo entre realizadores e o público, impulsionando o polo de produção caiçara. Com estas conquistas, Cubatão incentiva talentos locais e abre caminhos para que mais histórias da cidade e da região alcancem novos públicos. “Ficamos muito felizes com o excelente resultado da premiação. O reconhecimento dessas produções é uma vitória para todos os cubatenses, pois atrai os olhares do público e dos profissionais do setor para a cidade, sua riqueza e diversidade cultural. Estamos vivendo um excelente momento do setor cultural cubatense”, disse Omar Bermedo, secretário municipal de Cultura.
Por: Secom Cubatão
Fotos: Acervo dos artistas