“Uma noite para entrar para a história da cidade. Um espetáculo para guardar na memória de quem teve o privilégio presenciar e, literalmente, se encantar e se emocionar”. Assim, resumidamente, define Ademário Oliveira, prefeito de Cubatão, ao falar do grande show que ele, na condição de cidadão cubatense, estava do outro lado do palco, como parte da plateia que compareceu em massa à apresentação do artista Toquinho, um dos símbolos da Música Popular Brasileira (MPB). Segundo os organizadores, cerca de 15 mil pessoas prestigiaram o espetáculo, que ocorreu na noite desse sábado (6), em Cubatão, do qual o renomado músico foi ‘convidado especial’ da ‘Orquestra Sinfônica POP Arte Viva’, regida pelo Maestro Amilson Godoy. O cenário escolhido para este grande encontro da música brasileira foi o Píer do Jardim Casqueiro — mesma estrutura que comportou o ‘Casamento Comunitário’ e o ‘Réveillon 2023’.
Importante ressaltar que a abertura do aguardado show da Orquestra e seu ilustre convidado coube a um artista cubatense, o multi-instrumentista e professor da Escola Técnica de Música e Dança de Cubatão (ETMD), Lito do Brasil (Manuelito), que fez uma espécie de ‘esquenta’ para o que ainda estava por vir. Assim como os artista principais, Lito do Brasil também tocou músicas que influenciaram gerações e fizeram parte da infância de muitos munícipes presentes, agradando em cheio e recebendo efusivos aplausos e total reconhecimento do público.
A boa apresentação musical do representante cubatense encheu a plateia de expectativas, pois, o que estava bom, poderia ficar ainda melhor. E ficou. Eis que surgem ao palco os músicos da Orquestra – prenúncio da presença daquele que iria reger o espetáculo, o pianista, compositor, arranjador, solista, professor e maestro, Amilson Godoy, integrante de prestigiados grupos e que atuou frente à diversas orquestras sinfônicas do país afora. Ele começou saudando o grande número de espectadores que lhe aguardavam, dizendo-se muito feliz por estar em Cubatão, mas que o agradecimento àquela enorme plateia seria feito em forma de música, em ricas melodias. E assim o fez. Conforme prometido, o concerto foi uma combinação do clássico com música popular brasileira.
Maestro Godoy e Orquestra emendaram uma sequência de canções que marcaram a história musical do país, em performances definidas pela variedade de acordes e harmonias exuberantes. Entre as quais, títulos como ‘Aquarela do Brasil’ (1939), de Ary Barroso, ‘Asa Branca/Assum Preto’ (1947), denominada de ‘suíte nordestina’ pelo maestro, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, além de ‘Chega de Saudade’ (1959), de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A população que prestigiou o espetáculo não só teve a oportunidade de ouvir as músicas, mas foi contemplada com a história de cada uma delas, e o melhor, ouvindo do próprio artista, ali na frente de todos. Para cada canção havia um contexto histórico, com nuances reveladoras. Detalhes que, para muitos, pareciam até então novidades. Sendo assim, para chamar ao palco o principal nome da noite, o maestro começou falando de uma certa viagem que fez à Itália em 1969. Lá chegando, deparou-se com uma multidão falando e cantando nitidamente em português. “Parecia que eu estava em um território brasileiro. Quando me dei conta, era simplesmente Toquinho se apresentando e encantando os italianos. Dali, começou nossa relação”, contou Amilson Godoy, já chamando o convidado especial do espetáculo: o paulista Antonio Pecci Filho, ou, simplesmente, Toquinho, levando a plateia ao delírio.
Daquele momento em diante, foi outro ‘desfile’ de belas e canções consagradas do artista. O Píer do Casqueiro se transformou em um tremendo coral à beira-mar. Um repertório também recheado de história. Entre elas, imagine saber ali diante do artista que há 55 anos fez sua primeira música? Toquinho cantou esta, feita para uma então namorada. E ainda brincou dizendo que “o namoro deu errado, mas a canção deu muito certo”. Ele começou a cantar ‘Coisa mais linda’, e a galera logo a identificou e entoou junto com ele toda a canção. E que tal saber que a música tema da novela ‘O Bem Amado’ (1973) é dele, e que teve de ser feita às pressas para poder ser utilizada, seguida pela produção de toda a trilha sonora? Isso prendeu o público de tal maneira que não sentia a hora passar e que, claro, queria mais. Foi quando, em seguida, veio a clássica ‘Eu sei que vou te amar’ (1958), de Vinícius de Morais e Tom Jobim. Em certa altura do espetáculo, ele convidou a Cantora Camila Faustino, uma artista goiana que participa dos shows há sete anos. Com ela, veio ‘Se todos fossem iguais a você’ (1954), de Tom Jobim e Vinícius de Morais, e também “Andanças’ (1968), de Paulinho Tapajós, Danilo Caymmi e Edmundo Rosa Souto, já interpretada por Elis Regina, Beth Carvalho, Grupo Golden Boys, etc.
“Um dia sem rir ou sem humor é um dia perdido” e ‘’Enquanto você sonha, você está fazendo o rascunho do seu futuro”. Para encerrar, Toquinho citou o britânico Charles Chaplin (1889-1977) para falar de sua trajetória lúdica musical com Vinícius de Morais, onde eles buscam provocar o imaginário infantil com metáforas e criatividades, como um expoente da natureza, levando alegria e humor às pessoas, buscando despertar, principalmente nas crianças, a conscientização ambiental. Neste sentido lúdico que também impressiona os adultos, inclui-se ‘O Caderno’, ‘A casa’, ‘A bicicleta’, entre tantas outras. Mas a mais notável delas, sem dúvida é ‘Aquarela’, uma canção que, para ele, ‘’é marcante por ter sido feita de forma madura, mas sempre lúdica, de pensar a vida e a infância, em que exalta a potência do ato criativo, da imaginação, e também contempla a finitude da vida”. Com essa canção, Toquinho deu por encerrado a apresentação, mas com o efusivo pedido de bis da plateia, ele não se fez de rogado e despediu-se, novamente com Camila Faustino e toda a Orquestra, com “Trem das Onze’’, do renomado sambista Adoniram Barbosa (1964).
Comprovação – O espetáculo em si, pela sua essência histórica, atrai um público mais antigo, que no termo popular é chamado de ‘vanguarda’, mas também conta com muitos jovens e crianças. Principalmente se essa criança já vive no meio artístico musical. E este foi o caso de Alice Lili, de apenas 11 anos. Ela é uma cantora mirim cubatense que já representou a cidade em vários programas televisivos, como o ‘Canta Comigo, de Rodrigo Faro, na TV Record, sendo uma das finalistas da disputa; e na Eliana e no Danilo Gentili, ambos do SBT. Com essa visibilidade e sucesso, Alice cantou três músicas no Show do Leonardo em Cubatão, no aniversário de emancipação da cidade, em 9 de Abril do ano passado. No sábado, Alice Lili estava acompanhada do seu irmão Arthur Paulielo, de 8 anos, e dos seus pais, Fábio Marques (43) e Tamires Paulielo (33). “Eu vim ver o Toquinho justamente porque sei que ele canta canções para adultos e para crianças. Além de ‘Aquarela’ e outra que fala da casa, eu gostei também de ”Trem das Onze”, opinou a jovem artista cubatense, comprovando aquilo que o Toquinho havia explicado no Palco.
Texto e fotos: Secom Cubatão